quarta-feira, 29 de junho de 2011

Caio Prado Jr- O grande precursor da história econômica contemporânea brasileira


Caio Prado Júnior, nascido em 11 de fevereiro de 1907, foi uma das mentes mais brilhantes num momento de grandes mudanças no Estado brasileiro. Formado profissionalmente em história, economia e filosofia, deu sua maior contribuição na área histórica, onde escreveu livros que abordam uma nova maneira de se pensar nas transformações ocorridas no Estado brasileiro com o passar dos tempos. Grande intelectual participou ativamente na política durante a revolução de 30 e ditadura militar, foi preso diversas vezes, por aquilo em que acreditava ser o melhor para a nação brasileira. Morreu em 1990, aos oitenta e três anos, deixando o seu nome marcado como um dos pioneiros no pensamento histórico brasileiro.

Depois da semana de arte moderna em 1922, a literatura brasileira estava em crise de identidade, existiam duas tendências: verde- amarelismo, antropofagia. Os escritores abordam temas nacionalistas, procurando em personagens como o negro, o índio, o caipira, suas identidades. Neste impasse entre o esquerdismo e a direita no ramo artístico, coloca-se como fundamental as críticas sociais e o regionalismo. Nestas obras os problemas sociais são expostos de maneira a mostrar o ser humano como uma simples criatura animal e a sua realidade miserável. Em meio a tantos pensadores, Caio Prado Júnior não deixa de ser lembrado, ao contrário, suas obras foram de grande importância, escreveram a historia do Brasil a partir de suas diferenças e contrastes.

Durante as eleições de 1930, participou da oposição juntamente com o partido da Aliança Liberal, lançando Getúlio Vargas como candidato à presidência, na época, o então presidente Washington Luiz, lançou o paulista Júlio Prestes como candidato. É pertinente dizer que Caio Prado Júnior participou ativamente do processo pré-golpe, tanto sabotando as vias de comunicação como na ligação de conspiradores. Após o golpe ficou pouco tempo trabalhando com o novo governo, deixou seu posto pela falta de um programa político e pelo choque entre os políticos tradicionais. Filiou-se ao partido comunista, assim representando o homem da alta burguesia se misturando ao povo. Em 1935 junto com outros militantes de esquerda formou a Aliança Nacional Libertadora (ANL), foi perseguido pelo governo e preso junto com outros militantes de esquerda. Ganhou liberdade e viajou à França, só voltou em 1945 no final do mandato de Getúlio Vargas. Em 1947 foi eleito para o cargo de deputado estadual pelo Estado de São Paulo, porém no mesmo ano todos os militantes do partido ANL tiveram seu mandato cassado. Ainda na esfera política, Caio Prado Júnior desempenhou papel importante até a ditadura militar.

Em 1993 lançou seu primeiro livro, intitulado “Evolução Política do Brasil”, o trabalho considerado por muitos como o mais importante do autor é “Formação Econômica do Brasil Contemporâneo” onde apresenta os objetos da formação do Estado brasileiro. Nesta obra Caio Prado Júnior usa uma seleção minuciosa de suas fontes, inclusive a grande obra de Gilberto Freyre “Casa Grande & Senzala”. Sua tese parte do princípio que o Brasil que conhecemos hoje se define pelo seu período colonial, junto com as transformações ocorridas no decênio posterior e anterior.

Na introdução de sua grande obra, cujo titulo é o “Sentido da Colonização", Caio observa como se dá em sua época a produção, as transações externas e muitos outros fatores, e consegue chegar a conclusão de que em plena fase do modernismo podia ainda se observar o colonialismo, os problemas ainda continuavam com suas mesmas raízes. Para ele o sentido da colonização só pode ser respondido quando se observa o conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que constituíram a história de um povo em um largo período de tempo.

Na colônia brasileira, o comércio procurou obter produtos tropicais exóticos inexistentes na Europa, o que determinou a escolha de certos produtos agrícolas, levando em consideração o papel e desempenho de diferentes regiões brasileiras, a colônia não estava voltada para as necessidades do mercado interno e sim do externo. Tal aspecto determinou o tipo de exploração do solo e de organização da produção que foi a grande propriedade monocultura e escravocrata.

A primeira parte do livro intitulado “Povoamento”, argumenta sobre como se distribuiu o território brasileiro, ele afirma que de forma geral, guardada as devidas proporções quantitativas, o aspecto do território, em termos de povoamento, são praticamente o mesmo. A evolução do nosso povoamento pode ser dividida, basicamente, em três fases. A primeira da colonização até o século XVII, representada pela ocupação inicial feita pelos portugueses, compreendendo a ocupação do extremo litoral. A segunda fase do povoamento vai do século XVII até o XVIII, onde se dá pela revolução demográfica na região das Minas Gerais, seguidas por Mato Grosso e Goiás. A terceira fase, marcada a partir do final do século XVIII até o século XIX, constituída pela corrente migratória para o sul, após o declínio da mineração. Ainda nesta primeira parte, Caio Prado Júnior argumenta sobre a construção étnica brasileira, compostas essencialmente por brancos, negros e índios, e apresenta o novo panorama étnico, que é o predomínio de mestiços.

Na segunda parte do livro é onde está toda a sua base argumentativa, pois nesta parte o autor muitas vezes volta reforça sua idéia principal feita à introdução. Ele remonta a estrutura da economia baseada na agricultura como sendo essenciais, a participação da grande propriedade tropical, os escravos, e a monocultura, como estas sendo a base das relações econômicas, e ainda conclui que elas necessitam uma da outra para seu funcionamento. Neste período o engenho era uma grande organização fabril onde sempre se visava o lucro, deixando a agricultura de subsistência com o papel secundário. Gerando muitas vezes problemas sociais de alta gravidade, como a insuficiência alimentar em núcleos de povoamento denso.

Sobre a pecuária, Caio Prado Júnior considera o assunto muito importante mais pouco abordado em grandes obras. A pecuária era a principal em locais afastados dos núcleos de povoamento, assim como em locais impróprios para o cultivo da terra, seja pelo solo empobrecido ou por diversos fatores. No que diz respeito à indústria de base, Caio Prado Júnior destaca que, no centro industrial brasileiro existia um grande número de profissionais mecânicos, os artesãos eram e grande parte auxiliados pelos escravos, e ainda a existência de pequenas indústrias domésticas. O comércio era direcionado para os gêneros tropicais e metais preciosos. No capitulo referente à organização social, destaca-se que o que mais caracterizava a sociedade brasileira de princípios do século XIX é a escravidão. Deve-se ter em mente que a escravidão na América, onde se considerava apenas o esforço físico, foi diferente em outras regiões como por exemplo em Roma, onde se considerava além do esforço físico sua contribuição para a sociedade.

A administração feita por Portugal a sua colônia não obteve nenhuma evolução e é impossível ser comparada ao que temos hoje, nas administrações contemporâneas. De modo geral pode-se afirmar que a administração portuguesa estendeu ao Brasil sua organização e seu sistema e não criou nada de original para sua colônia. Caio Prado assume de fato uma analise marxista no teor da obra referida, existe uma teoria materialista da historia presente em seu trabalho. Se, em Marx e Engels, a historia é praticamente assumida como um processo racional, neste autor, a desorganização, o caos, a ausência de coerência do Estado lusitano não deixam de ser pontos constantemente levantados, ao invés de partir do pressuposto de que o Estado português tinha propósitos bem definidos e racionais de exploração. Caio Prado Júnior se diferencia de outros pensadores de sua época com Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre por não perceber o problema cultural como o determinante das dificuldades do Brasil.

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