sexta-feira, 8 de julho de 2011

ENTEDENDO A FORMAÇÃO ECONÔMICA BRASILEIRA. É POSSÍVEL UNIR AS TEORIAS.

O presente artigo tem como principal objetivo desenvolver na História Econômica, no âmbito de desenvolvimento econômico-social e funcionamento de sua dinâmica, um diálogo entre os principais estudiosos nacionais, apresentando assim diversas vertentes de teorias quanto ao objeto de pesquisa em formação econômica brasileira. Não tenho como objetivo apresentar um modelo único e autorrealizável para esta discussão, pois como veremos mais adiante, as teorias sempre são e serão criticadas, gerando assim diferentes “escolas de pensamentos”.

Na década de 30 a História Econômica passou por uma reformulação quanto a sua estrutura e objeto de pesquisa, assim como a ciência em um todo. Antes desta década a história se ocupava quase que exclusivamente de publicar contos históricos, onde figurava no papel principal o herói. Os ideais iluministas, a semana de arte moderna em São Paulo e alguns outros episódios estimularam a mudança na ciência. A economia também passa por uma reformulação, mudando sua estrutura, considerando agora o processo histórico para se entender como se deu as relações econômicas e sociais em diferentes períodos da história.

Os primeiros pensadores a contribuir de forma significativa foram: Caio Prado Júnior, Gilberto Freyre, Sérgio Buarque de Holanda e Celso Furtado. Sendo que as principais obras de Caio Prado Júnior e Celso Furtado são, ou pelo menos deveria ser considerada leitura obrigatória para a graduação de Ciência Economia e História.

Este artigo esta dividido em três partes, assim apresentado: na primeira seção, estão compreendidos os primórdios da História Econômica Brasileira e alguns pensadores contemporâneos, que consideram a acumulação primitiva de capital como a dinâmica fundamental para o desenvolvimento de nossa sociedade; Na segunda seção, são apresentadas teorias alternativas, onde o objeto de pesquisa é mudado, nesta seção se estuda o modo de produção escravista, economia de subsistência, interiorização colonial e outras; Na terceira seção é apresentado um modelo, onde se procura obter solução para a problemática de encontrar um modelo teórico que possa ser aceito amplamente, e onde se podem incorporar diferentes teorias.

1. Clássicos Brasileiros

Na década de 30, muitos historiadores e economistas publicaram suas grandes obras, dando ênfase em Caio Prado Júnior, considerado o “Adam Smith” da História Econômica brasileira. Sua grande obra “A Formação do Brasil Contemporâneo”, escrita em 1942, não foi a primeira a ser publicada, porem foi a de maior expressão, dando inicio a discussão de formação econômica no território brasileiro.

Vera Borges de Sá caracteriza Caio Prado Júnior assim:

Caio Prado Júnior, na verdade, faz parte do florescer da inteligência brasileira que buscou explicar as raízes do Brasil, não mais enfatizando os heróis individuais, mas a partir de análises de conjecturas em que os grupos políticos, segmentos de raça e classe têm um papel privilegiado na explicação da história.[2]

Como podemos observar, Caio Prado Júnior mudou o objeto de estudo, antes focado no herói, agora estudando os processos históricos para se entender como se formou o estado brasileiro. Existe um caráter de singularidade na obra deste autor, ele relata que se nos observarmos à atual sociedade, ainda poderemos encontrar relações que se formaram durante o período colonial. Portanto Caio Prado considera muito importante como se dava as relações coloniais, tanto econômicas quanto social.

Tal autor enxergava que as relações entre: escravos, monocultura e grandes propriedades agrícolas, se relacionavam de tal forma que uma não poderia funcionar sem a presença da outra. Caio Prado Júnior observa que na colônia portuguesa Sul-americana, foi incorporado um trabalho agrícola voltado para atender as necessidades do exterior. Dentro das grandes propriedades agrícolas funcionava a monocultura, cuja ação não necessitava de um grande aparato tecnológico, portanto considerado uma forma mais simples da agricultura. E a mão-de-obra utilizada nesta monocultura de produtos exóticos, que funcionava dentro da colônia portuguesa, era quase que exclusivamente de cunho escravo. Os portugueses negavam o trabalho por acreditar denegrir sua aparência de ser superior, o chamado eurocentrismo. E assim Caio Prado Júnior apresenta sua lógica de sentido de colonização, onde toda a estrutura da colônia estava à disposição da coroa portuguesa, conhecido como acumulação primitiva de capital, Portugal usa a colônia como forma de acumular divisas e metais preciosos.

Outro autor que merece destaque nesta vertente de pensamento é Celso Furtado, economista brasileiro conhecido e com altamente conceituado na carreira acadêmica internacional. Este economista foi de grande importância quanto ao estudo de desenvolvimento em toda a América – latina. Celso Furtado teve voz ativa na CEPAL durante seu auge.

Assim escreve Tomás Szmrecsányi:

O ensaio sobre a estagnação na América Latina, além de ter sido cronologicamente o primeiro, foi também aquele que alcançou maior repercussão, dando origem, alguns anos mais tarde, a uma famosa contestação empírica por parte de Maria Conceição Tavares e José Serra. Além de apresentar um engenhoso modelo histórico do desenvolvimento econômico e social da América Latina (...). [3]

Celso Furtado avança nas pesquisas de desenvolvimento na sociedade brasileira, distanciando assim o pensamento comum de que a industrialização e desenvolvimento das sociedades periféricas latino-americanas deveriam ser iguais ao desenvolvimento experimentado nos países centrais, ou seja, países como Inglaterra, Estados Unidos, Japão, Alemanha e outros.

Apoiado no objeto de pesquisa de Celso Furtado, o sociólogo e ex-presidente da república, Fernando Henrique Cardoso, se juntou com Faletto para desenvolver uma teoria sobre a dependência, que os países latinos periféricos tinham com os países centrais. Estes autores aprofundaram suas pesquisas quanto ao objeto, desenvolvimento nessas sociedades. Eles perceberam, que os países latinos tiveram seu desenvolvimento de forma parecida, estes sendo financiado por empresas estrangeiras, sendo assim, o setor industrial continua dependendo da “capacidade de importação” de bens de capital, conduzindo também a dependência financeira, mesmo que em seguida se forme o setor interno de bens de capital, a dependência de importação diminui e não desaparecem.

O pensador que mais se aproxima com Caio Prado Júnior, dentre uma linha de historiadores é Fernando Novais. No seu livro ”Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial”, Novaes se utiliza da teoria de Caio Prado Jr para montar seu modelo teórico. Fernando Novais assim escreve:

Ora, promovendo a primitiva acumulação capitalista nas economias centrais européias, o funcionamento do sistema colonial se comporta, como já vimos, como um instrumento fundamental (embora não o único, evidentemente: há que considerar fatores internos do desenvolvimento capitalista na Europa) a promover a ultrapassagem para o capitalismo industrial.[4]

Este pensador remonta a sociedade colonial e como se deu a deteriorização da administração portuguesa, como a acumulação primitiva de capital foi perdendo força, devido à administração arcaica adotada pelos portugueses.

2. Demais vertentes de pensamentos.

Neste segmento os autores que se destacam são: Ciro Cardoso e Gorender. Na obra de Ciro Cardoso o autor apresenta como está inserido o escravo dentro da sociedade, principalmente na produção. Esta necessidade de ter o escravo presente na sociedade tem um caráter singular, trabalho com pouco nível de tecnologia e inteligência, sendo assim um trabalho braçal. Para que tal procedimento fosse viável alguns itens deveriam ser respeitados, como: escravo sendo mercado e capital; o preço pago por um escravo é o lucro capitalizado pelo mesmo; e o baixo nível técnico.

O tipo de escravidão experimentado na America é diferente do sistema escravista de outras sociedades. Na sociedade americana, o escravo funcionava como uma moeda de troca e/ou um instrumento de trabalho. Nesta, não se podia utilizar o instrumental teórico do pensamento econômico, pois não existia trabalho assalariado.

Ciro Cardoso apresenta a renda escravista, como uma receita gratuita do proprietário sobre os escravos. Seu volume está determinado pela produtividade da utilização do escravo.

Jacob Gorender se junta a Ciro Cardoso tanto para criticar Caio Prado Júnior, Gorender em menor intensidade, tanto para apoiar o escravismo colonial como fundamento da sociedade Brasileira. Para Gorender, a produção é o principio formador da organização social dos homens, chamado de modo de produção.

Jacob Gorender escreve sobre o modo de produção.

O modo de produção é, assim, por si mesmo, um modo de reprodução continuado das relações de produção e das forças produtivas. (...) o estudo de uma formação social deve começar pelo estudo do modo de produção que lhe serve de base material.[5]

Ciro e Gorender contribuem com sua teoria em outras áreas, mas o importante a ser analisado é a mudança de objeto histórico, saindo da administração portuguesa e indo para o sistema escravista.

Além destes dois autores, existem outros pensadores que se diferenciam com suas publicações no campo da historiografia econômica pelos diferentes objetos estudados, destaque para: Maria Odila, Alcir Lenharo, Maria Yedda Linhares, Roberto Martins, Riva Gorenstein e Kátia Mattoso.

Até o aparecimento da obra destes autores, compreendia como fundamental na formação do estado nacional brasileiro, a acumulação primitiva de capital e o modo de produção escravista. Porém estes autores trouxeram ao cenário da historiografia econômica nacional personagens como o caixeiro viajante, economia de subsistência, a dinâmica da agricultura nacional e outros que deixaram de ser analisados pelos pensadores das vertentes anteriormente mencionados.

Maria Odila se concentra na interiorização da metrópole, olhando a vinda da coroa portuguesa de forma diferentemente conhecida pela maioria da população portuguesa. Enquanto o senso comum acredita, que a família real veio exclusivamente de Portugal para o Brasil fugida das tropas de Napoleão Bonaparte, Maria diz que a saída da coroa portuguesa para sua principal colônia se deu por outros motivos, motivos traçados estrategicamente.

Um importante objeto abordado a partir de então, que é estudado com mais profundidade, é a rede de abastecimento interno. Dentro desta área, Alcir Lenharo teve grande importância com sua obra “As tropas da moderação”, onde o autor relaciona as estradas e rodovias, e ainda seus melhoramentos, como de grande importância para se entender o fluxo de mercadorias no mercado nacional. Em sua obra podemos constatar a importância do sul de Minas na rede de abastecimento interno, principalmente na cidade do Rio de Janeiro, cidade mais importante em tal período.

Alcir Lenharo trata da seguinte forma, o tratamento dado para o abastecimento interno:

Enquanto o setor oriundo da burocracia e do comércio da Corte reforçou-se social e economicamente através da expansão da economia cafeeira e através da emergência de novos proprietários na região, o setor de classe ligado à produção e ao comércio de abastecimento do mercado interno ficava marginalizado do poder da Corte, resistindo e expandindo-se no âmbito municipal e provincial.[6]

È importante entender como se deu o abastecimento de mercadorias de subsistência interno, mesmo que este assunto sempre tenha sido marginalizado, pois é baseado nessa dinâmica de mercado que se deu o desenvolvimento de alguns estados brasileiros de grande importância no cenário nacional e internacional, como Minas Gerais.

Maria Yedda Linhares foca-se na problemática da agricultura nacional, como se deu seu desenvolvimento e as relações sócias presentes no campo. Maria Yedda apresenta o papel do caubói, um trabalhador assalariado, diferente do escravo que não recebia remuneração alguma por seu trabalho. A autora apresenta como se dava a remuneração de cada agente presente nesta forma de sociedade, onde o principal beneficiado é o proprietário da terra.

Além destes objetos de pesquisas mencionados anteriormente, é publicado obras que se preocupam com caixeiros viajantes, como se dá sua ascensão na sociedade, suas relações sociais, suas famílias, entre outras possibilidades de pesquisas. Porém estes estudos não apresentam o mesmo grau de importância na dinâmica e desenvolvimento de nossa sociedade.

Existem inúmeras teorias que venham a contribuir para a História Econômica brasileira, porém não é o objetivo de tal artigo especificar todos os modelos teóricos desta disciplina. Sendo assim, foram escolhidos os autores quanto ao seu grau de importância na percepção de construção econômica e social da presente sociedade brasileira.

3. Construção de um modelo teórico

Na procura de um modelo teórico ideal, que por si só explica como se deu a construção do panorama econômico-social da sociedade brasileira, podemos observar inúmeros autores que venham a contribuir, cada um com suas limitações. Antes de criticar a publicação de um autor, é importante analisar o tempo histórico em que sua cada contribuição foi dada, suas dificuldades, dinâmica social e ainda o caráter inovador de suas teorias.

Para se entender como se deu a formação econômica da sociedade brasileira, é preciso se ter em mente a perspectiva dos ciclos econômicos, originalmente desenvolvido por Simonsen. Pois tendo em mente sua dinâmica, podemos visualizar o ciclo de povoamento e exploração, iniciando com a exploração do açúcar no litoral brasileiro, sua mão-de-obra exclusivamente escravista e seu caráter exportador, na segunda fase há uma corrente migratória para a região das Minas Gerais, Mato Grosso e Goiás, mão-de-obra escravista e pactos com a metrópole portuguesa, em que somente podiam comercializar com a mesma, com as baixas das minas o fluxo migratório se deu para as regiões do sul, com a produção cafeeira e um grau considerável de expansão industrial, mão-de-obra mista, economia voltada para o exterior, porém com autonomia.

Não podemos deixar de observar como se dava a dinâmica do mercado interno, o mercado escravista, abastecimento de mercadorias nas principais cidades brasileiras e o desenvolvimento da agricultura. Com a rede de abastecimento interno, podemos entender como se deu o fortalecimento de Minas Gerais e outras cidades, mesmo com as baixas das minas de matérias preciosos, enquanto Rio de Janeiro e São Paulo se enriqueciam com o café, Minas Gerais, parte da região sul e centro oeste conquistavam seu papel dentro da sociedade com a rede de abastecimento interno.

È fácil observar que o Brasil sempre figurou no mercado internacional como, exportador de commodities e matérias-primas, e importador de mercado de capital, para financiar sua industrialização, gerando dependência financeira.

No papel social a construção étnica da sociedade brasileira é bastante rica, onde os portugueses, índios já existentes na terra dominada pelos europeus e os escravos trazidos de suas terras para trabalhar na colônia, criaram um personagem conhecido como mestiços.

A intenção deste artigo é fazer com que nós percebamos que não existe um único modelo teórico capaz de ser único e absoluto. Pois existem muitos agentes, e cada vês mais são incorporados novos agentes que estão inseridos na sociedade. A história Econômica é de grande importância para a manutenção desta discussão, pois este tema é de muita importância para entender de forma racional quais foram os moldes utilizados para a construção econômica e social da atual sociedade brasileira.

João Fragoso escreve em “Para que serve a história econômica?” desta forma:

Apesar desse rejuvenescimento e profissionalização das pesquisas nacionais, muita coisa está por ser feita. São poucos os trabalhos, ainda, que procuram estudar temas como o chamado pequeno comércio e seus agentes; a mobilidade social dos pardos e forros; os mecanismos de exclusão social, e as elites e suas estratégias de acumulação.[7]

Termino este presente artigo, fazendo as palavras de Maria Conceição Tavares minhas palavras.

Economia é uma ciência social, e seu nome originário deve ser restabelecido -Economia Política- tem que voltar a esta idéia, tem que aprender história, para poder aprender a juntar as teorias. Modelo matemático não serve para nada, modelo matemático é uma piada. Existem quatrocentos modelos matemáticos, nunca acertam nada, acerta aquele que tem talento para fazer política monetária. Não é somente economia política, não vale a pena ser economista se você não achar que deve dar alguma contribuição para a sociedade, com sua profissão, com seu talento. E se você não se preocupar com o povo brasileiro, melhor ser engenheiro. Economia trata de problemas sociais e políticos. (...) [8]



[1] Estudante de graduação em Ciências Econômicas na UFRRJ

[2] BORGES DE SÁ, Vera. A FORMAÇÃO DO BRASIL CONTEMPORANÊO POR CAIO PRADO JUNIOR:

Contexto, epistemologia e hermenêutica de um clássico da historiografia brasileira. Revista Symposium. Pg.- 20.

[3] SZMRECSÁNYI,Tomás. CELSO FURTADO (1920-2004) E A ECONOMIA DO DESENVOLVIMENTO. PG- 92.

[4] A. NOVAIS, Fernando. Portugal e Brasil na Crise do Antigo Sistema Colonial (1777-1808).

[5] GORENDER,Jacob. O ESCRAVISMO COLONIAL

[6] LENHARO, Alcir. AS TROPAS DA MODERAÇÃO. PG-71

[7] FRAGOSO, João. Para que serve a história econômica? Notas sobre a história da exclusão social no Brasil. PG- 18

[8] CONCEIÇÂO TAVARES, Maria. Entrevista no programa de televisão “Agenda Econômica”.

quarta-feira, 29 de junho de 2011

O longo século XX.

Após a revolução industrial experimentada na Grã-Bretanha, este país se tornou o líder econômico e político mundial, sendo o pioneiro em modernização e uma espécie de modelo para outros países que visavam atingir tal grau de industrialização. Durante o século XIX e início do século XX ocorreram uma série de transformações que traziam uma nova perspectiva da ordem mundial, com o aparecimento de uma nação muito forte, que eram os Estados Unidos. O autor Giovanni Arrighi, traz em seu livro “O longo século XX- Dinheiro, poder e as origens de nosso tempo” como se deu essa troca de nação hegemônica, e trazendo ainda uma mudança de pensamento no quesito temporal, que é a lentidão desse acontecimento, diferente do que é apresentado por muitos pesquisadores sociais.

A Grã-Bretanha como nação hegemônica no cenário mundial, era a principal nação que cedia crédito para países que buscavam um desenvolvimento. E foi assim, que os Estados Unidos conseguiram crédito para sua modernização, chegando a dever quase Seis bilhões de libras esterlinas para a Inglaterra. Os Estados Unidos foram o país que captou a maior parte dos investimentos ingleses, estima-se que com a renda concedida pelos Estados Unidos (pagamento da dividida somado os juros) houve um aumento de quase 300% nas reservas de ouro do Banco da Inglaterra.

Com o início da guerra a Inglaterra acreditava ter saldo suficiente para custear cinco anos de guerra, entretanto isso não passava de um engano, pois durante o conflito bélico a Inglaterra necessitou importar muitas mercadorias e até mesmo armas de guerra. Os Estados Unidos durante tal período, além de exportar bastante mercadoria para a Inglaterra, a substitui como principal investidora financeira, atingindo o mercado latino e em partes da Ásia.

Após o termino da primeira grande guerra, Inglaterra e Estados Unidos agiam de forma conjunta, pensamento que gera muita controvérsia entre intelectuais modernos. Pois, mesmo que os Estados Unidos assumissem a responsabilidade de estabilizar a ordem mundial, estes não eram capazes administrar sem a ajuda de Londres o sistema monetário mundial. Portanto, Nova York continuava inteiramente subordinada a Londres, mesmo que seu poder e influência tenham atingido um crescimento considerável dentro das redes de altas financiadas sediadas em Londres.

Com o aparecimento da nova tendência de capital especulativo, os Estados Unidos que até então, era o principal financiador de nações estrangeiras, decidiu focar-se em seu mercado especulativo, por acreditarem ser mais seguro. Porém tal ação exercia uma pressão perigosa sobre as reservas de ouro e divisas estrangeiras. Esta especificidade juntamente com a quebra de Wall Street somou para a crise de 29, levando a destruição final da principal instituição da Inglaterra, a City Londrina.

A segunda guerra mundial colocou de fato os Estados Unidos como principal potência econômica, mas ainda faltavam algumas melhoras para o estabelecimento de uma nova ordem mundial. Com o desaparecimento da houte finance e o padrão-ouro, era necessária a construção de uma nova rede de instituições que regulasse o sistema monetário internacional. Da conferência de Bretton Woods surgiu o banco mundial e o FMI, com o dólar sendo a moeda mais forte. Mas ainda era necessária uma revolução ideológica, que rompesse com a idéia anterior de capitalismo, para isso o plano New Deal de Roosevelt foi suficiente, se utilizando de um pensamento bastante nacionalista.

O que se pode ver em tal livro de Arrighi, é que o autor apresenta como de extrema importância para a força exercida pelos Estados Unidos é a diferença quanto o sistema de acumulação. Enquanto a Inglaterra era a base do processo de formação do mercado mundial e que seus principais ramos de atividade tinha um laço de complementaridade com colônias, os Estados Unidos “internacionalizava” este mercado mundial, em que suas corporações gigantescas eram integradas numa racionalidade econômica. Mostrando ser muito mais muito completo e complexo que o apresentado na Grã-Bretanha. Este fator somado a todos outros apresentados anteriormente contribuíram para a aceitação de um posto hegemônico presente nos Estados Unidos, que pode ser visto até os dias de hoje, com menos intensidade, porém não inexistente.

Teoria da dependência.

A teoria da dependência, desenvolvida por Fernando Henrique e Faletto atingiu o ápice de sua aceitação nos anos 70, e procurou descrever e entender as características de dependência que os países periféricos latino-americanos tinham com os países centrais. O autor descreve que a industrialização dos países periféricos estabelecia aços com países centrais, dependendo não só de importação-exportação, mas também de investimentos industriais.

Durante período nacional-popular a industrialização dos países periféricos parecia orientar-se para os produtores nacionais, assim consolidando o Estado como regulador. Mas devido à situação sócio-política de tais países, optou-se por um desenvolvimento engajado no financiamento externo. O índice de desenvolvimento depende quase que exclusivamente da política escolhida pelas empresas estrangeiras.

O autor ainda apresenta algumas características observadas nas economias industriais periféricas, como o elevado grau de diversificação, grande parte do excedente utilizado para reinvestimento, amadurecimento do setor terciário, renda equilibrada no setor urbano-industrial, mercado interno capaz de absorver a produção.

A situação que liga o subdesenvolvimento ao mercado internacional já não aparecem como direta e fracamente políticos. O setor industrial continua dependendo da “capacidade de importação” de bens de capital, conduzindo também a dependência financeira, mesmo que em seguida se forme o setor interno de bens de capital, a dependência de importação diminui e não desaparecem.

Com a “internacionalização do mercado interno”, organizando de forma mais dinâmica a produção industrial, se conduz uma reorganização administrativa, tecnológica e financeira. Porém, o desenvolvimento não vem através da nova tecnologia ou do financiamento de capital externo, mas sim dos esquemas políticos.

Através dos capitais, da técnica e da organização transferidos do exterior inaugura-se um novo eixo de ordenamento da economia nacional, implicando em um novo tipo de dependência. A disponibilidade dessas pré-condições por parte das nações centrais leva a um estreitamento dos laços de dependência.

O Estado nacional dirigiu, dentro de suas fronteiras, políticas como resposta as pressões externas, conseguindo resguardar parte da autonomia nacional. Porém no âmbito do desenvolvimento, a unificação dos sistemas produtivos leva à padronização dos mercados e a seu ordenamento supranacional.

O esquema político dessa forma de desenvolvimento requer que se consiga estruturar um adequado sistema de relações entre os grupos sociais que controlam tais setores econômicos, para garantir o funcionamento de um mercado cujo dinamismo baseia-se, principalmente no incremento das relações entre produtores mais significativos, no entanto é necessário conter as demandas reivindicatórias das massas.

No desenvolvimento industrial periférico as medidas protecionistas são inviáveis, já que o funcionamento da economia depende do funcionamento estrangeiro, requerendo outra estratégia para o desenvolvimento. Tal desenvolvimento instaura-se intensificando a exclusão social, não só da massa, mas também das camadas sociais responsáveis pelas etapas anteriores, que funcionam como subsidio para o setor monopolista.

O setor público da economia em uma fase anterior conseguiu de, alguma forma manter um controle sobre o setor monopolista, porém não adotou uma política tipo populista, que estimula a distribuição da renda e sim desempenharam papel de empresário-público. OS grupos dominantes buscam a reorganização do próprio regime político para permitir que a centralização autoritária, que facilita a implantação do modo capitalista de produção nas economias dependentes, possa consolidar seu domínio.

Teoricamente, nos países onde o setor produtivo moderno foi orientado sob as novas condições de desenvolvimento e dependência, suas reorganizações de decisões políticas e econômicas pareciam ser consistentes. Apesar disso, na prática não se expressam todas as conseqüências que se espera em tal processo, pois as transformações se chocam com os interesses concretos.

A passagem do regime democrático ao autoritário faz-se por intermédio de revoluções nas quais, são as grandes organizações nacionais que atuam e se reorganizam. Na situação latino-americana, a expressão política da burguesia urbano-industrial esteve mais diretamente vinculada ao estado através de grupos de pressão ou da ocupação de cargos no aparato estatal.

A crise do populismo, a mobilização política das burguesias contra os ideais comunistas, contra a pressão das massas sobre o Estado, a forma adotada para a revogação do poder democrático foi a do “golpe militar”, Aniquilam-se os setores políticos tradicionais e procura-se transformar a influencia militar permanente em condição necessária para o desenvolvimento.

Os países dependentes passam a sofrer dois tipos de pressão: uma a favor do desenvolvimento racional e moderno, e outra que insiste no caráter nacional excludente do desenvolvimento do capitalista em países dependentes. Este último encontra apoio inclusive em frações das forças armadas.

O autor termina sua obra descrevendo os êxitos da pressão política dos assalariados, dependerão mais do aperfeiçoamento de suas organizações sindicais e da diferenciação das classes médias na produção capitalista-industrial. Tais transformações poderão permitir que os setores assalariados voltem a influenciar nas decisões políticas.

100 anos de paz.

No livro “A grande transformação” do autor Karl Polanyi, este descreve com grande clareza e contundência os motivos que estavam envolto da paz que reinava no século XIX, apresentando as principais instituições que lucravam com essa paz, e o porquê de sua manutenção.

Karl Polanyi destaca quatro grandes instituições da civilização do século XIX, como o sistema de equilíbrio de poder, padrão internacional do ouro, mercado auto-regulável e o estado liberal, classificadas de certo modo, duas eram econômicas e duas políticas. A autora apresenta duas criações do Estado Europeu que visavam manter o funcionamento do Estado Liberal, primeiramente a Santa Aliança e posteriormente o Concerto Europeu. È importante ressaltar, assim como a autora o faz diversas vezes, que a criação da Santa Aliança e depois o Concerto Europeu, só aconteceu pelo colapso do sistema internacional e o frequentemente medo da quebra da economia mundial.

A Santa Aliança foi atuante por aproximadamente um terço do século, dando a força necessária para o ímpeto ideológico da paz. A Santa Aliança utilizava como um de seus instrumentos, a intervenção nas guerras, no termino dos conflitos, e para isso dispunha quase que unicamente de esforços físicos, ou seja, da brutalidade. No entanto, o que a Santa Aliança, como toda a sua unidade de pensamento e propósitos conseguiu alcançar na Europa com a ajuda de frequentes intervenções armadas, foi alcançado em escala mundial por uma entidade difusa chamada Concerto da Europa, com a ajuda muito menos frequente e opressiva do uso da força.

Durante a ação do Concerto Europeu que apareceu a houte finance, proposta pela autora como principal instrumento do Concerto para a manutenção da paz, aparecida no último terço do século XIX e no início do século XX, sendo o elo principal entre a organização política e a organização econômica.

O aparecimento da instituição houte finance, de acordo com a própria autora, foi de grande importância para o século de paz, pois está instituição lucrava com a paz. A houte finance trabalhava como um banco internacional, onde era possível junto à instituição conseguir arrecadar fundos para futuros investimentos, guardar o dinheiro arrecadado de maneira segura, conseguir a troca de divisas junto ao mercado cambial. E tal instituição funcionava como uma ferramenta de ligação entre os principais países, principalmente entre a Alemanha, Inglaterra e França, portanto era de suma importância para a instituição a fomentação de uma civilização auto-reguladora e pacificadora.

Ao final da década de 1870, a Alemanha que está no auge de sua modernização, adota medidas de cunho protecionistas e de expansão colonial. O poder da Alemanha estava a desafiar outras grandes potências como a Grã-Bretanha, assim, desequilibrando as relações entre grandes potências. Na década de 1890, a houte finance parecia estar em seu auge e a paz parecia estar segura. Só parecia, aos pouco o Concerto da Europa foi sendo substituída por duas vertentes, Tríplice Aliança formada Alemanha, Àustria-Hungria e a Itália, e a Tríplice Entente formada por Inglaterra, França e Rússia, tirando assim de vez a paz do cenário mundial.

A industrialização no século XIX.




O livro intitulado “A industrialização no século XIX” escrito pela professora da UFRJ Vânia Cury tem como principal função, fazer com que o leitor possa compreender nas suas especificidades alguns processos industriais realizados entre o século XIX e XX.

Em seu primeiro capítulo é abordado à hegemonia britânica, e como é dado o funcionamento de seu sistema de pagamentos e comércio internacional. Em meados de 1850 a Grã-Bretanha obtinha o título de primeira nação industrializada, sua liderança no mercado internacional era incontestável, apresentando quase que o dobro na produção de produtos importantes comparado a seus concorrentes, como na produção de ferro e tecidos de algodão.

Apresentando como grande marco da industrialização inglesa a revolução no mercado de transportes, principalmente com a presença das ferrovias, não sendo exagero admitir que o mercado mundial estivesse apresentando dimensões modestas antes do advento das ferrovias. Com as estradas de ferro, a Grã-Bretanha consolidou sua hegemonia comercial e industrial. Dados aproximados revelaram que os investimentos realizados em estradas de ferro superaram os investimentos de todas as demais indústrias juntas. A estrada de ferro era uma espécie de “pacote industrial” como apresenta a autora, pois sua aquisição implicava obtenção simultânea de técnicas, equipamentos, pessoal qualificado e muitas vezes seu próprio financiamento, sendo administrada a partir da City Londrina.

A ferrovia tornou-se também um elemento decisivo na política imperialista das grandes potências, facilitando a penetração em todas as áreas e continente do planeta, pois podiam ligar as novas áreas de exploração dos centros urbanos ou até portos. A autora apresenta diversas vezes, a importância das ferrovias para o cidadão comum, pois minimizava o seu tempo de viajem, o que muitas vezes durava semanas agora podia durar menos de um dia.

Além do papel revolucionário como meio de transporte e comunicação, e do enorme potencial para atrais investimentos, deve-se ressaltar o caráter inovador das ferrovias também em termos de organização da firma e de gestão empresarial. Sua administração precisava dar conta da supervisão e da execução de funções distintas, levando as empresas de estradas de ferro a inovar em técnicas de organização e administração, constituindo a base para a expansão das modernas corporações.

A autora apresenta com clareza a presença dos centros industriais na política, mas especificamente a City Londrina, pois esta empresa tinha quase que sozinha as relações comercias inglesas, portanto seus interesses eram sempre colocados como importante, dado um grau de hierarquia, caracterizando assim o modelo livre-cambista da Grã-Bretanha. Num certo sentido, a ampla liberdade comercial existente no mercado mundial como sendo uma pré-condição do sistema internacional de pagamentos implementado a partir de Londres.

De 1850 em diante, verificou-se uma firme tendência de elevação dos investimentos britânicos no mundo ultramarino, destinados, sobretudo, à criação de condições essenciais de infra-estrutura, que facilitassem a implantação de sistemas produtivos voltados para a exportação.

Levando em conta as transações comerciais em que os britânicos compravam mais do que vendiam no exterior, pode-se concluir que, em grande parte, era graças aos extraordinários “rendimentos invisíveis”, como frete, juros de investimento, que o balanço de pagamentos da Grã- Bretanha mantinha-se equilibrado e até mesmo superavitário.

Um dos aspectos mais importantes da evolução do comércio internacional no século XIX, segundo a autora foi à progressiva substituição dos manufaturados tradicionais na pauta de exportações dos países industrializados, cedendo espaço para a metalurgia para a química, a maquinaria industrial e a eletricidade.

As duas últimas décadas do século XIX já assinalavam o declínio da participação britânica no mercado mundial de produtos industrializados. Depois da primeira guerra mundial, sobretudo, seu declínio seria ainda mais sentido, em virtude do crescimento da produção local em diversos mercados importantes do mundo ultramarino. A clara inferioridade do comércio inglês para seus concorrentes era menos uma questão de tarifas protecionistas e mais um problema relativo à estrutura interna de sua economia e à ausência de dinâmica para promover inovações e desenvolver novos produtos.

A expansão do comércio mundial europeu, em grande medida, do aperfeiçoamento do sistema monetário que permitiu a troca ágil e constante de diversas moedas entre si, sendo para tanto necessária a criação de um padrão confiável para regular o câmbio dos diversos países. A descoberta de novos depósitos auríferos e a hegemonia comercial e financeira da Grã-Bretanha foram às principais responsáveis pela ampla adoção do padrão-ouro. A credibilidade da libra, garantida pela estabilidade, mais a rentabilidade dos investimentos proporcionados por ela, contribuíram para dar àquela moeda a condição de meio de pagamento universal. Não parece difícil admitir que em suma, o padrão-ouro internacional era, na verdade um padrão-libra que cobria a maior parte do mundo, e o ouro só um fator de confiança.

A história do comércio internacional, no século XIX, foi assim a história da supremacia incontestável da economia britânica e, ao mesmo tempo de seu declínio como potência industrial. O declínio industrial da Grã-Bretanha e a emergência de novos gigante da indústria prenunciavam uma era de incertezas e desequilíbrio que arrastaria muitos países a guerra.

No capítulo 2 a autora apresenta o modelo de desenvolvimento industrial Alemão, considerando suas especificidades e singularidade, analisando seus principais produtos, os tipos de indústrias ali instaladas, o papel de seus bancos e como o governo alemão se comporta com as idéias socialistas.

A principal característica da formação da modernização industrial alemã sendo ocorrida, em um ambiente formado pela articulação de um “setor tradicional” com um “setor moderno” em ascensão. A participação do Estado no planejamento do desenvolvimento nacional sendo verdadeiramente singular. Apoiado numa longa tradição de intervencionismo governamental, o Estado alemão atuou firmemente em todo segmento articulados ao crescimento econômico.

Uma das características da modernização industrial alemã apontada pela autora é a preocupação que o estado apresenta com a educação de seus cidadãos, criando centros de excelência técnica com o objetivo de criar mão de obra qualificada e um sistema educacional que servisse também ao progresso geral do país, atendendo às demandas pela pesquisa cientifica. O grande segredo da universidade alemã residia no fato de desenvolverem a pesquisa, embasado simplesmente na obtenção do conhecimento. O Estado deu excelência à escola primária e secundária, revelando uma preocupação governamental com a moral e a ética.

Muitos autores apresentam que a vitória o capitalismo como sistema econômico é resultado de uma revolução burguesa bem-sucedida, o que é totalmente equivocado, pois a Alemanha jamais passou por qualquer espécie de revolução burguesa triunfal. Na industrialização alemã sua história econômica não pode ser separada a política de poder, a classe dominante pretendia continuar no poder. O Estado teve participação decisiva no comando do sistema ferroviário, acreditando estar garantindo as condições básicas para um crescimento econômico equilibrado.

Segundo a autora, um dos aspectos mais importantes da história econômica da Alemanha é sua política de protecionismo, as mudanças propostas nas tarifas alfandegárias e nos impostos internos se enquadravam a ampla necessidade de aumentar a receita governamental, também foi sobre o amparo das tarifas protecionistas que a indústria alemã cresceu, de modo acelerado.

A principal diferença da modernização da Alemanha comparada aos outros países industrializados foi o seu pioneirismo na formação de cartéis, - acordos firmados entre empresas de um mesmo ramo-, cuja grande finalidade é manter os preços, limitando a concorrência e dividindo os mercados. A combinação de aumento de escala com cartelização levou, à configuração de uma estrutura em que os setores de ponta produziram uma integração econômica mais global.

No início da era de modernização alemã, os bancos tinham como características de financiar a industrialização em curto prazo. O financiamento da produção industrial e os empréstimos á longo prazo vieram subseqüente. O banco desempenhava um papel tão importante na industrialização, que muitas vezes membros da diretoria dos bancos eram nomeados para o conselho administrativos das empresas industriais. A autora comenta a importância dessa interação, pois até certo período esse processo era de forma involuntária.

No final do século XIX a Alemanha era a principal nação do mundo no setor químico, um fruto de seu desempenho na área de pesquisa cientifica junto a universidades e centros de excelência financiados pelo governo. Entre os produtos que mereceram destaque na indústria química alemã estavam justamente às tintas derivadas do alcatrão. O sucesso alemão no campo da química foi o principal estimulador para novas pesquisas, dessa vez no ramo da física, principalmente no campo da eletricidade. O setor elétrico contribuiu significativamente para o crescimento da economia alemã, tendo como principal campo de atuação a construção de linhas de bondes nas áreas urbanas,

A autora apresenta a expansão do comércio e das cidades alemã, mostrando diferenças entre os viajantes comercias alemão e viajantes comercias de estrangeiros, pois os alemães não esperavam pelos pedidos, tomando a iniciativa de oferecer os produtos aos compradores. Além disso, o produto alemão era mais barato que de seus concorrentes, pois não precisava de intermediários. Comparando o gráfico anexado pela a autora na página 79, pode se observar o crescimento gigantesco de habitantes, a Alemanha assumiu, progressivamente, a partir de 1870, a condição de país europeu com a maior taxa de crescimento populacional.

O Partido Social Democrata Alemão ao lado dos sindicatos despontavam como as principais frentes de luta dos trabalhadores, em busca de melhores condições de trabalho e de maiores salários. As deliberações do congresso realizado em 1892 recomendaram, em especial, a formação de confederações que agrupassem diferentes sindicatos.

O Estado Alemão com o objetivo de inibir o fortalecimento do Partido Social Democrata e dos sindicatos de orientação marxista, amplia a legislação trabalhista, cirando melhores condições de vida nas classes trabalhadoras, além de promulgar uma lei especificamente anti-socialista. O governo alemão também procurou converter o sistema educacional em ferramenta estratégica, para evitar a difusão das idéias socialistas e comunistas no país. O Partido Social Democrata alcança grandes conquistas dentro do parlamento, mas o acirramento das lutas de classes e o seu envolvimento com a causa socialista terminaram por banimento político e a clandestinidade.

No capítulo 4 a autora apresenta o caso de modernização no Japão, este começa um pouco mais tarde se comparado aos outro 2 anteriormente citados, mais precisamente no ano de 1868 e termina em 1914 com a primeira guerra mundial. O Japão durante muitos anos foi controlado por uma espécie de ditadura militar, controlada pelo clã da família Tokugawa, parecido com o sistema feudal experimentado pela Europa na Idade Média.A restauração Meiji é apresentada como o ponto onde é iniciada a modernização japonesa, mas contando também com algumas modificações importantes que já estavam em curso desde a Era de Tokugawa, como o aumento da produtividade agrícola, gerando excedente suficiente para criar as primeiras indústrias.

Um caso bastante singular na modernização do Japão é a ação em conjunto do Estado e a iniciativa privada. O governo japonês transferia as empresas estatais para as mãos da iniciativa privada, pois a manutenção desses empreendimentos por muitas vezes se tornava uma tarefa difícil. As empresas eram passavam ao controle de grandes grupos financeiros da época. O esforço do capital privado japonês, assim, foi amplamente beneficiado pela política governamental, que tentou afastar os competidores estrangeiros e facilitou a formação de grupos economicamente poderosos.

Outro ponto importante da modernização japonesa era a preocupação governamental com o nível de educação de seus trabalhadores. A educação elementar representava a generalização das habilidades de ler e escrever e de lidar com números, passando a ser considerado fator essencial para a preparação integral de uma força de trabalho condizente com a industrialização acelerada o país. O governo também elevou seus investimentos de modo a apressar a qualificação da força de trabalho para fins especificamente industriais.

Pode-se afirmar que, em certo sentido, as exportações de fio e de tecidos prontos viabilizaram uma boa parcela do crescimento industrial do Japão, por proporcionarem um grande acumulo de divisas, necessário para garantir a importação de matérias-primas e bens de capital imprescindível à expansão de outras modalidades de indústria. È possível afirmar que a indústria da seda japonesa produzida fios principalmente para exportação, enquanto a tecelagem era absorvida basicamente pelo mercado interno.

A experiência japonesa teria partido diretamente da produção de bens de capital, em virtude da prioridade conferida pelo governo à produção armamentista. O nascimento e o crescimento vertiginoso dos setores ligados à indústria pesada no Japão, por sua vez, resultaram de políticas deliberadas do governo no sentido de expandir, o mais rapidamente possível, sua capacidade de prover o Estado de meios eficazes e modernos de “garantir a soberania nacional”.

Apesar do crescimento em diversas frentes, a economia japonesa não era capaz de absorver com rapidez as enormes levas de trabalhadores que se encontravam sem ocupação. Dentro de seu projeto integrado, o Estado japonês optou pelas políticas de estimulo à saída maciça de população para o exterior.

O quadro internacional de tensões crescentes, entretanto, favoreceu o rendimento da política externa japonesa para os campos do confronto imperialista, estreitando ainda mais o laço entre os interesses do Estado e interesses na iniciativa privada, logo o Japão se precipitou numa escalada expansionista sobre a Ásia, obtendo conseqüências desastrosas tanto para a população como para a atividade industrial.

Comparando os modelos apresentados pela autora, podemos observar que cada modelo está situado em seu respectivo momento histórico, portanto apresentam características bastante difusas. A Inglaterra como pioneira do desenvolvimento industrial desenvolveu uma tendência utilizada por outros países, que logo experimentariam a modernização, o melhoramento sistema de transportes e comunicações, desenvolvendo em larga escala a construção de uma rede ferroviária, que mais tarde iria ajudar países como Estados Unidos e Alemanha em sua industrialização. Outro transporte importante aperfeiçoado pela Grã-Bretanha era o comércio ultramarino, que mais tarde seria utilizado também pelo Japão.

Um aspecto importante a ser analisado é o papel desempenhado pelo Estado em tais modelos de industrialização, na Grã-Bretanha a tendência de mercado era o livre-comércio onde as indústrias tinham liberdade para desenvolver suas políticas comerciais, o que não pode se visto na modernização alemã e japonesa. Estes modelos tinham o Estado incorporado nos estabelecimento de medidas políticas mercantis, no caso da Alemanha o Estado utilizava medidas protecionistas para cuidar de suas indústrias. O modelo japonês é desenvolvido uma força conjunta entre Estado e iniciativa privada, onde o papel do governo por muitas vezes era a criação das indústrias modelos, onde depois de assegurada sua criação, a indústria então era repassada para os grandes industriais.

A autora apresenta no livro como um dos principais motivos da quebra hegemônica da Grã-Bretanha, o despontamento de grandes indústrias imperialistas em ascensão como Estados Unidos e Alemanha e ainda a falta de dinâmica no mercado das indústrias inglesas, diferentemente da Alemanha onde o governo investe na educação técnica de seus trabalhadores, recolhendo grandes frutos nas indústrias químicas e elétricas.

Caio Prado Jr- O grande precursor da história econômica contemporânea brasileira


Caio Prado Júnior, nascido em 11 de fevereiro de 1907, foi uma das mentes mais brilhantes num momento de grandes mudanças no Estado brasileiro. Formado profissionalmente em história, economia e filosofia, deu sua maior contribuição na área histórica, onde escreveu livros que abordam uma nova maneira de se pensar nas transformações ocorridas no Estado brasileiro com o passar dos tempos. Grande intelectual participou ativamente na política durante a revolução de 30 e ditadura militar, foi preso diversas vezes, por aquilo em que acreditava ser o melhor para a nação brasileira. Morreu em 1990, aos oitenta e três anos, deixando o seu nome marcado como um dos pioneiros no pensamento histórico brasileiro.

Depois da semana de arte moderna em 1922, a literatura brasileira estava em crise de identidade, existiam duas tendências: verde- amarelismo, antropofagia. Os escritores abordam temas nacionalistas, procurando em personagens como o negro, o índio, o caipira, suas identidades. Neste impasse entre o esquerdismo e a direita no ramo artístico, coloca-se como fundamental as críticas sociais e o regionalismo. Nestas obras os problemas sociais são expostos de maneira a mostrar o ser humano como uma simples criatura animal e a sua realidade miserável. Em meio a tantos pensadores, Caio Prado Júnior não deixa de ser lembrado, ao contrário, suas obras foram de grande importância, escreveram a historia do Brasil a partir de suas diferenças e contrastes.

Durante as eleições de 1930, participou da oposição juntamente com o partido da Aliança Liberal, lançando Getúlio Vargas como candidato à presidência, na época, o então presidente Washington Luiz, lançou o paulista Júlio Prestes como candidato. É pertinente dizer que Caio Prado Júnior participou ativamente do processo pré-golpe, tanto sabotando as vias de comunicação como na ligação de conspiradores. Após o golpe ficou pouco tempo trabalhando com o novo governo, deixou seu posto pela falta de um programa político e pelo choque entre os políticos tradicionais. Filiou-se ao partido comunista, assim representando o homem da alta burguesia se misturando ao povo. Em 1935 junto com outros militantes de esquerda formou a Aliança Nacional Libertadora (ANL), foi perseguido pelo governo e preso junto com outros militantes de esquerda. Ganhou liberdade e viajou à França, só voltou em 1945 no final do mandato de Getúlio Vargas. Em 1947 foi eleito para o cargo de deputado estadual pelo Estado de São Paulo, porém no mesmo ano todos os militantes do partido ANL tiveram seu mandato cassado. Ainda na esfera política, Caio Prado Júnior desempenhou papel importante até a ditadura militar.

Em 1993 lançou seu primeiro livro, intitulado “Evolução Política do Brasil”, o trabalho considerado por muitos como o mais importante do autor é “Formação Econômica do Brasil Contemporâneo” onde apresenta os objetos da formação do Estado brasileiro. Nesta obra Caio Prado Júnior usa uma seleção minuciosa de suas fontes, inclusive a grande obra de Gilberto Freyre “Casa Grande & Senzala”. Sua tese parte do princípio que o Brasil que conhecemos hoje se define pelo seu período colonial, junto com as transformações ocorridas no decênio posterior e anterior.

Na introdução de sua grande obra, cujo titulo é o “Sentido da Colonização", Caio observa como se dá em sua época a produção, as transações externas e muitos outros fatores, e consegue chegar a conclusão de que em plena fase do modernismo podia ainda se observar o colonialismo, os problemas ainda continuavam com suas mesmas raízes. Para ele o sentido da colonização só pode ser respondido quando se observa o conjunto dos fatos e acontecimentos essenciais que constituíram a história de um povo em um largo período de tempo.

Na colônia brasileira, o comércio procurou obter produtos tropicais exóticos inexistentes na Europa, o que determinou a escolha de certos produtos agrícolas, levando em consideração o papel e desempenho de diferentes regiões brasileiras, a colônia não estava voltada para as necessidades do mercado interno e sim do externo. Tal aspecto determinou o tipo de exploração do solo e de organização da produção que foi a grande propriedade monocultura e escravocrata.

A primeira parte do livro intitulado “Povoamento”, argumenta sobre como se distribuiu o território brasileiro, ele afirma que de forma geral, guardada as devidas proporções quantitativas, o aspecto do território, em termos de povoamento, são praticamente o mesmo. A evolução do nosso povoamento pode ser dividida, basicamente, em três fases. A primeira da colonização até o século XVII, representada pela ocupação inicial feita pelos portugueses, compreendendo a ocupação do extremo litoral. A segunda fase do povoamento vai do século XVII até o XVIII, onde se dá pela revolução demográfica na região das Minas Gerais, seguidas por Mato Grosso e Goiás. A terceira fase, marcada a partir do final do século XVIII até o século XIX, constituída pela corrente migratória para o sul, após o declínio da mineração. Ainda nesta primeira parte, Caio Prado Júnior argumenta sobre a construção étnica brasileira, compostas essencialmente por brancos, negros e índios, e apresenta o novo panorama étnico, que é o predomínio de mestiços.

Na segunda parte do livro é onde está toda a sua base argumentativa, pois nesta parte o autor muitas vezes volta reforça sua idéia principal feita à introdução. Ele remonta a estrutura da economia baseada na agricultura como sendo essenciais, a participação da grande propriedade tropical, os escravos, e a monocultura, como estas sendo a base das relações econômicas, e ainda conclui que elas necessitam uma da outra para seu funcionamento. Neste período o engenho era uma grande organização fabril onde sempre se visava o lucro, deixando a agricultura de subsistência com o papel secundário. Gerando muitas vezes problemas sociais de alta gravidade, como a insuficiência alimentar em núcleos de povoamento denso.

Sobre a pecuária, Caio Prado Júnior considera o assunto muito importante mais pouco abordado em grandes obras. A pecuária era a principal em locais afastados dos núcleos de povoamento, assim como em locais impróprios para o cultivo da terra, seja pelo solo empobrecido ou por diversos fatores. No que diz respeito à indústria de base, Caio Prado Júnior destaca que, no centro industrial brasileiro existia um grande número de profissionais mecânicos, os artesãos eram e grande parte auxiliados pelos escravos, e ainda a existência de pequenas indústrias domésticas. O comércio era direcionado para os gêneros tropicais e metais preciosos. No capitulo referente à organização social, destaca-se que o que mais caracterizava a sociedade brasileira de princípios do século XIX é a escravidão. Deve-se ter em mente que a escravidão na América, onde se considerava apenas o esforço físico, foi diferente em outras regiões como por exemplo em Roma, onde se considerava além do esforço físico sua contribuição para a sociedade.

A administração feita por Portugal a sua colônia não obteve nenhuma evolução e é impossível ser comparada ao que temos hoje, nas administrações contemporâneas. De modo geral pode-se afirmar que a administração portuguesa estendeu ao Brasil sua organização e seu sistema e não criou nada de original para sua colônia. Caio Prado assume de fato uma analise marxista no teor da obra referida, existe uma teoria materialista da historia presente em seu trabalho. Se, em Marx e Engels, a historia é praticamente assumida como um processo racional, neste autor, a desorganização, o caos, a ausência de coerência do Estado lusitano não deixam de ser pontos constantemente levantados, ao invés de partir do pressuposto de que o Estado português tinha propósitos bem definidos e racionais de exploração. Caio Prado Júnior se diferencia de outros pensadores de sua época com Sérgio Buarque de Holanda e Gilberto Freyre por não perceber o problema cultural como o determinante das dificuldades do Brasil.